Entre o IPO e o FIDC: o custo do capital (aparentemente) barato
A ascensão silenciosa do crédito privado
Nos últimos meses, o mercado de capitais brasileiro tem oferecido uma alternativa tentadora para empresas médias e grandes: captar recursos com prazos longos, taxas historicamente baixas e, o mais atrativo, sem abrir mão do controle societário. O caminho? Estruturas de dívida, como os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e as debêntures.
De acordo com a ANBIMA, os FIDCs captaram R$ 20,7 bilhões no primeiro semestre de 2025, enquanto a indústria de fundos como um todo viu saídas líquidas de quase R$ 38 bilhões. O fluxo revela uma preferência crescente por crédito privado, impulsionada pelo cenário de juros altos e pela reavaliação do risco em outras classes de ativos.
Capital (quase) barato: oportunidade ou ilusão?
Operações recentes mostram um apetite inédito por dívida corporativa: Mater Dei captou a CDI + 1,1% e a TIM a CDI + 0,8%. Para prazos acima de cinco anos, são números que chamam atenção — e que, até pouco tempo, seriam considerados agressivos.
Esse ambiente levanta uma pergunta estratégica: por que abrir o capital via IPO, se o mercado de crédito entrega liquidez, prazo e discrição? Menor regulação, ausência de diluição acionária e menos exposição pública tornam a dívida uma alternativa altamente competitiva frente ao equity.
Riscos regulatórios e papel da CVM
Esse movimento pode sinalizar um amadurecimento do mercado brasileiro — mas também alerta para uma possível compressão artificial dos spreads, sem correspondência com o risco real das operações.
Nesse cenário, o papel da CVM se torna ainda mais relevante. Mais do que fiscalizar, é sua missão garantir o funcionamento eficiente do mercado, proteger investidores e estimular o crescimento equilibrado. A sofisticação financeira deve vir acompanhada de uma supervisão técnica, responsiva e prospectiva, que mantenha o equilíbrio entre inovação e integridade.
Reflexões finais
Estamos diante de um novo equilíbrio entre capital e crédito. A popularização rápida de estruturas sofisticadas demanda um olhar atento do regulador e maturidade das empresas. É hora de garantir que o acesso facilitado ao capital não venha à custa da estabilidade do sistema.
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